sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Declaração


Conhece cada centímetro, cada pedaço de mim
Cada desejo, cada vontade
Cada segredo que guardo na memória ou o coração

Sabe de cada marca, cada cicatriz, cada sinal de dor ou alegria
Vigia-me diariamente
Eterno confidente, é também companheiro de todas as horas

Amante, amigo, companheiro 
Das horas de calma, desespero, leituras, confidências... 
Meu porto seguro
Companheiro de todas as horas
Amo-te travesseiro

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O outro lado


A distância da cura é a doença
A distância do medo é a coragem
O que te afasta do ruído é o silêncio
O que te afasta da solidão é o outro
A distância da felicidade é a tristeza

O outro lado do não é o sim.

Depois da cara vem o coroa
Depois do verbo a ação
Depois do longe tem o perto 
Depois de tudo... você mesmo

E depois de você não há medo, silêncio, escuridão, verbo, solidão
Depois de tudo, o que te sobra é a simples e irrefutável certeza do você
Você simples, você ação, você conhecimento, você por você 
E nada mais...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Delírios

Como se nada tivesse acontecido
Volta sem avisar
Sorrateira e feroz

Toma meu corpo, mexe com meus sentidos
Faz-me sentir calafrios 
Ao mesmo tempo em que aquece meu corpo cada vez mais

E sem domínio se contorce a cada instante
Tentando se ver livre de você
Mas todo o esforço é em vão

A cabeça roda e a respiração fica mais difícil, mais ofegante
Canso de resistir e me entrego

Oh bendita febre, porque não me deixa de vez?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Estrada


Idas e voltas, encontros e despedidas
Vitórias, derrotas, acertos, desentendimentos
Triunfos e decepções...

A estrada pode ser longa
Pode ser curta
Pode ser rica
Pode ser simples
Pode ser cura
Pode ser alivio
Pode ser tudo

E pode simplesmente não ser

Não ser motivo
Não ser alivio
Não ser dor
Não ser necessidade

O irremediável é que nunca deixará de ser estrada

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Tempo


Senhor do destino
O tempo nos mostra suas façanhas

Em tudo o que nasce 
Mostra esperanças e desejos de mudanças
Novas oportunidades, velhas expectativas
Naquilo que morre
Ou simplesmente se transforma
Deixa a dúvida do dever cumprido, a certeza de que foi pouco
O alivio da dor às vezes
A saudade do acontecido
O conhecimento do esquecido, adormecido, não vivido

O tempo nos mostra continuamente
Novas versões de velhas histórias
As marcas do rosto, das mãos e da memória
Relembram sem cessar que ele corre
E que a cada momento o temos menos
O desejamos mais, o aproveitamos menos
Nos perdemos mais, nos conhecemos mais

E cada vez mais o tempo ensina, consola, compreende...
Tudo desenvolve, chega e parte em um ciclo sem fim
E acima de tudo e de todos reina triunfante
O Senhor do destino

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Bordados


Na varanda de uma velha casa
Uma senhora borda
A agulha fere o tecido plantando flores de memórias

Crianças brincam nas ruas
Namoradeiras enfeitam as janelas que vigiam cada movimento
Senhoras alinhavam vivências em confissões de comadres
Donzelas guardam a sete chaves em diários forrados de seda
Amores e desejos que a cada página são confessados
Tecidos com fé, esperanças e paixão

A história não muda...
O que muda são os outros

Receitas de bolos, filhos doentes...
Casamento dos filhos, chegada dos netos
Despedidas e boas vindas a esse mundo de loucos
Descobertas, vitórias, histórias
Novos encontros e despedidas, renovação

Vida que segue
E na velha varanda de uma nova casa
Uma senhora borda
A agulha fere o tecido plantando flores de memórias

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Temperos


A vida é feita de pequenas receitas
Cada qual com seus temperos
Seus cheiros e sabores infinitos
Há quem goste de pimenta
Aquelas coisinhas que te esquentam a cabeça
Arrepiam a pele e faz corar a face

Há quem goste de doce
Pequenas ações de ternura
Um beijo roubado, um bilhete escondido no bolso
Uma ligação na madrugada, andar de mãos dadas
Segredos no ouvido...

Há quem goste de fermento
Boas ideias, novas posturas, mais amizades
Mais música, mais carinho
Mais leitura, riso, sonhos

Há quem goste de sal
Sal de saudade de alguém que partiu
Ou fizemos partir, de alguém que está ao nosso lado 
E ao mesmo tempo distante de nós
Do arrependimento do feito, que ensinou muito
Ou do não feito que ensinou muito pouco

As ervas...
Dão novas cores e perfumes ao dia a dia
Um cheirinho de coisa nova, ou velha quem sabe,
Uma lembrança boa, uma saudade gostosa 
Uma nova dança, um velho amigo
Um desafio

Existem várias receitas
Cada qual com seus temperos, sua ousadia
Misturas que nos tornam únicos e saborosamente intrigantes
Confusos, claros, intensos, complicados, simples e normais
Somos receitas regadas com gotinhas de prazer de experiências vividas

Receitas únicas do simples e infinitamente complexo ato de ser



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Paciência


A última hora
O último prazo
O desejo mais urgente
A dor mais voraz
A pressa da resposta
A fragilidade do sono
A dor da perda
A incerteza do cotidiano
As máscaras
As ilusões
As decisões definitivas...

Tudo some, desaparece, evapora
Quando se percebe que o urgente acabou
O último morreu, as certezas nunca são certas
As respostas nunca serão concretas
E a satisfação nunca será plenamente alcançada

Restando apenas a necessidade de entendimento
E a busca da coragem para exercitar o que um dia, quem sabe, nos levará a enxergar um pouco mais além...
Além das certezas, além das dúvidas, além da descrença, além de mim, além de nós...

E quando olhares para frente, lá estará ela, doce, bela e generosa esperando de braços abertos para mais uma jornada.
E com um belo sorriso, lhe saudará mansamente:
Muito prazer, meu nome é Paciência.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

in POSSIBILIDADES


Em meio à tormenta surgiste como uma luz no fim do túnel
Entre tantos braços cruzados, foste a mão estendida
Marcado por tantas feridas, chegaste como um bálsamo
Ajudou-me a curar a asa quebrada

A mente traída rememorava cenas e acontecimentos
Que vez por outra curavam, ou reabriam velhas feridas
O riso escondido pela rudeza do diariamente foi abrindo espaço
Para a esperança que de mansinho veio chegando

Lendo pensamentos, divertia-se com as ações previstas
Lendo a alma, presenteava-me com gotas de mim mesmo
Que bebidas às baldadas revelavam-me
Assustava-me perceber mais sobre um eu que forçava por esconder
Temia conhecer

A mera suspeita de novas revelações arrepiam os ossos
Ao mesmo tempo que instiga a vontade
Desisti de fugir, de tentar adiar, de fingir não ver
Joguei a toalha e neste instante me presenteaste com um
Universo infinito de possibilidades